Por Priscila Koritar, nutricionista
No dia 31 de agosto comemoramos o Dia do Nutricionista. A profissão nasceu no Brasil em 1939 com a criação do primeiro curso de Nutrição no país no Instituto de Higiene de São Paulo, atual Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. Em menos de 80 anos de profissão, é notável o desenvolvimento da Nutrição como ciência, bem como do reconhecimento da importância da profissão. Atualmente, o Brasil possui 666 instituições de ensino com curso de Nutrição e 124.420 nutricionistas inscritos em todo o país, sendo que São Paulo é o estado com maior número de instituições de ensino e de nutricionistas inscritos, representando 23,4% do total de instituições e 26,14% do total de inscritos.
Reconhece-se em todo o mundo que a alimentação é um dos principais fatores determinantes da saúde (WHO, 2004). De acordo com a Resolução CFN 380 (2005), o nutricionista é o profissional habilitado para promoção, manutenção e recuperação da saúde por meio da alimentação, a partir da atuação diversas áreas, como nas áreas clínica, saúde pública, hotelaria, spa, esportiva e marketing, redes de fast-food, inspeção de alimentos, consultoria e cozinhas experimentais, educação nutricional, ensino e pesquisa.
Dessa forma, nutricionistas são considerados experts em alimentação saudável, e pode-se acreditar que onde melhor se pode aprender tais conceitos seja na formação em Nutrição. Entretanto, graduandos estão imersos no mesmo ambiente e sujeitos às mesmas influências que as demais pessoas, modulando suas atitudes alimentares. Além disso, acredita-se que o entendimento de estudantes de Nutrição sobre alimentação saudável norteará sua prática profissional.
Um estudo conduzido por Koritar e Alvarenga (2017) com 472 estudantes de Nutrição de 39 instituições de ensino localizadas em 23 municípios do estado de São Paulo, observou que, a partir de uma lista de 14 fatores de relevância para uma alimentação saudável os três principais fatores são: 1) “Comer especialmente alimentos frescos/naturais e pouco processados/integrais”; 2) “Comer com prazer”; 3) “Respeitar os sinais fisiológicos de fome e saciedade”. Apesar de algumas diferenças de acordo com o tipo de instituição, fase da graduação e estado nutricional, de maneira geral, estes fatores parecem estar alinhados com o Guia Alimentar para a População Brasileira (Brasil, 2014) e com a Organização Mundial da Saúde (WHO, 2004).
Quando indagados sobre atitudes com relação aos nutricionistas e modificações de atitudes em decorrência da graduaçãoem Nutrição, 86,7% relatam que “depois que eu comecei a estudar Nutrição me preocupo mais com a minha alimentação e meu peso”, 41,9% declaram que “estudar Nutrição aumentou minha culpa com a comida” e 48,8% relataram que “nutricionistas devem ser exemplo de boa forma” (Koritar e Alvarenga, 2017).
Apesar dos primeiros resultados apresentados serem considerados positivos, esses últimos resultados nos fazem questionar o entendimento desses estudantes de alimentação saudável, de saúde e do nutricionista; nos fazem desejar para um futuro próximo o reconhecimento e a incorporação de uma alimentação saudável “planejada com alimentos de todos os tipos, de preferência naturais e preparados de forma a preservar o valor nutritivo e os aspectos sensoriais, garantindo que os alimentos sejam seguros e harmoniosos, qualitativa e quantitativamente adequados, respeitando e valorizando as práticas alimentares culturalmente identificadas, visando à satisfação das necessidades nutricionais, emocionais e sociais” (Brasil, 2014); nos fazem desejar uma saúde que olhe o ser humano em sua totalidade (Almeida Filho, 2013); e um nutricionista que esteja habilitado para promoção, manutenção e recuperação da saúde por meio da alimentação considerando a amplitude de tais conceitos.
Referências
Almeida Filho N. O que é saúde? Rio de Janeiro: Fiocruz; 2013.
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Guia alimentar para a população brasileira/ Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. 2 ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2014.
Koritar P, Alvarenga M. Fatores relevantes para uma alimentação saudável e para estar saudável na perspectiva de estudantes de Nutrição. Demetra; 2017; 12(4); 1031-1051.
World Health Organization. 57th World Health Assembly. Global strategy on diet, physical activity and health. Geneva: WHO; 2004. Disponível em: http://www.who.int/dietphysicalactivity/strategy/