Por Ester Soares, nutricionista
Dia destes li um texto no blog da nutricionista Sophie Deran sobre miss adolescente. No texto, a nutricionista chamava a atenção para o prêmio do concurso: R$ 20.000,00 em cirurgias plásticas. Já não bastasse a bizarrice do concurso em si. Bom, a matéria serviu para que veio, a quem interessar possa, ok!
A ansiedade por mudanças faz parte do universo adolescente, acredito. Cabem às pessoas mais maduras e com maior vivência, responsáveis por este ser em construção, esclarecer e tentar amenizar as inquietudes da galera. Isso vale para todas as áreas. Se seu filho/a gosta de tênis, por exemplo, legal, incentive-o à prática do esporte. Assim vale para música, dança, sem querer torná-lo de cara um atleta. A fantasia e o imediatismo fazem parte do mundo do jovem, mas as decisões que podem permear seu futuro ainda são de responsabilidade de seus ?tutores?. Não estou falando, ainda, de tratamento psicológico (sempre bem vindo, quando necessário), estou falando de conceitos e estrutura familiar.
Filtro! Por favor! Filtro! Não se trata de escolher um bom restaurante. Estamos falando de exageros em busca de beleza.
Voltemos às cirurgias plásticas: segundo dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), o Brasil é o segundo país em números de cirurgias, atrás apenas dos EUA.
O número de cirurgias plásticas em adolescentes entre 14 e 18 anos mais do que dobrou em quatro anos – saltou de 37.740 procedimentos em 2008 para 91.100 em 2012. A participação de jovens em comparação aos adultos, no total de cirurgias, também cresceu: saltou de 6% em 2008 para 10% em 2012.
Algumas revistas destinadas ao público teen (?) até oferecem dicas para a ?realização deste sonho? (isso mesmo). Um sonho!
Os familiares alegam que talvez com a intervenção cirúrgica o adolescente possa sentir-se mais satisfeito com sua forma corporal.
Oi? Estamos falando de um corpo em transformação, não é escolha de sabor de sorvete. Muitas, se não na maioria das vezes, a insatisfação corporal pode ser o fio de algo mais grave.
Embora com dados poucos conclusivos, alguns estudos sugerem que, em indivíduos que procuram cirurgia plástica, existe uma relação complexa entre autoestima, peso, preocupação com aparência, hábitos alimentares (comportamento alimentar) e transtornos alimentares. Sim, temos neuras, bem tentamos resolvê-las, foi assim com a minha geração, com a geração da minha mãe. Ok, novos modelos, novos modismos, novas exigências. Não é simples! Mas, estou falando de cirurgias estéticas, decisões impulsivas e não encontro, nos trabalhos científicos, estatísticas tão alarmantes sobre intervenções cirúrgicas como o que estamos vivendo. Como disse, é um número em curva ascendente. Que tal olharmos mais para os anseios, fantasias e imediatismos de nossos adolescentes e reforçarmos mais os conceitos de autoestima e valorizarmos mais o convívio social, enfatizar que os conceitos de beleza expostos não condizem com a visão real, reforçar valores mais consistentes e menos consumistas que contribuam no combate à ditadura da beleza e/ou padrões inatingíveis? Assunto abordado de forma impecável pelas nutricionistas Fernanda B. Scagliusi e Bárbara Hatzlhoffer Lourenço no capítulo intitulado: ?A ditadura da beleza e suas consequências no discurso nutricional? no livro ?Nutrição e transtornos alimentares ? avaliação e tratamento?.
Não é esperar o tempo passar, mas dar tempo ao tempo!
Ora bolas…
Vale a pena ler: http://www.rolereboot.org/life/details/2013-06-when-your-mother-says-shes-fat