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A força da atitude


Por Paula Costa Teixeira, profissional de educação física

No ultimo post que escrevi (veja aqui) refletimos sobre a insatisfação corporal presente nas crianças e a pouca exploração do assunto no campo fértil da educação física escolar.

Precisamos reconhecer que a falta de discussão sobre insatisfação corporal, a compreensão do conceito de saúde desvinculado aos padrões de beleza, e até mesmo o preconceito por aqueles que não se ?encaixam? nos padrões não é culpa do professor. É muito fácil culpar alguém ou culpar a sociedade. O caminho não é encontrar o culpado, mas sim solucionar o problema.

Tanto o profissional da saúde quanto o da educação não são adequadamente preparados para promover estas reflexões na sua formação básica. Pensando na educação física, atualmente, o profissional com licenciatura plena pode atuar em escolas, academias, clubes, empresas, hospitais, postos de saúde, enfim… Onde houver espaço para promoção de saúde, educação e esporte (o profissional bacharel só não pode atuar em escolas). Eis aí a grande maravilha desta profissão! Podemos promover saúde em qualquer lugar.
Entretanto, infelizmente, a mídia, por vezes, resume o profissional de educação física àquele que vai ajudar na queima das calorias e, consequentemente, no emagrecimento. E essa ?função? que caía de forma mais explícita sob as costas do professor da academia, agora também recai pelo da escola. Com o sedentarismo e a obesidade aumentando, surgem cada vez mais programas que prometem zerar a obesidade.

Vale ressaltar que não sou contra os programas, a grande crítica é a não associação da obesidade aos transtornos alimentares. A depender da abordagem dos programas que promovem estilo de vida ativo e alimentação saudável o resultado pode ser catastrófico para a saúde mental do indivíduo. E, ao invés de resolver a obesidade, teremos um terreno frutífero para o desenvolvimento de transtornos alimentares.

É extremamente importante que nós, profissionais da saúde e da educação, entendamos que resolver obesidade não é simplesmente fazer o obeso emagrecer. Vivemos numa sociedade em que a maioria das pessoas é insatisfeita com o corpo. Então se o indivíduo que é magro está insatisfeito, imagina o que está acima do peso?

A atitude do professor pode contribuir muito para a adoção de uma atitude positiva ou negativa por parte do indivíduo (e entenda este indivíduo como um aluno da escola, da academia, ou do personal trainer, um funcionário da empresa, ou ainda um paciente do hospital).

Todo mundo sabe que é importante para a saúde ter uma alimentação equilibrada e praticar exercícios regularmente. Então, por que é tão difícil adotar estes comportamentos?

Inúmeros fatores impedem a adoção de um estilo de vida ativo (falaremos mais sobre isso futuramente). Vamos focar esta reflexão na atitude do professor. Só para ilustrar a questão vou exemplificar duas experiências pessoais.

Uma vez ouvi de uma paciente adulta com transtorno da compulsão alimentar que ela detestava praticar exercícios porque, quando pequena, o professor de educação física da escola só elogiava os alunos mais habilidosos e que se destacavam nos esportes coletivos. E toda aula era uma frustração porque ela nunca era escolhida pelos colegas na divisão dos times. Sendo assim, ela ficava sentada e sozinha.

Outro exemplo, também de uma paciente com transtorno da compulsão alimentar que conseguiu vitoriosamente se engajar em aulas de ginástica funcional. Após várias tentativas fracassadas de frequentar a academia regularmente, ela encontrou prazer em aulas de um centro de convivência. Mas, ela era a única aluna da turma acima do peso e frequentemente se sentia ridicularizada pelo professor que a destacava para enfatizar a importância de realizar tal exercício e queimar as calorias. Por muitas vezes, ela chorava ao chegar em casa por sentir raiva do seu corpo, e essa frustração gerava mais compulsão alimentar.

Esses dois exemplos servem para refletirmos como a atitude do professor pode influenciar significativamente na vida de um indivíduo. Claro que este não é o único fator responsável pela adoção (ou não) de um determinado comportamento.

Para contribuir com a adoção de uma atitude positiva, ressalto aqui algumas dicas para todos profissionais envolvidos, seja na área da educação, da saúde, no mundo fitness, enfim… Para aqueles que lidam com seres humanos da sociedade contemporânea que cultua o corpo e a beleza.

– Antes de promover aula ou discussões sobre qualquer assunto dentro desta temática, reflita sobre os seus próprios valores e conceitos. O que é saúde para você? Como você lida com seu corpo? Você também está insatisfeito corporalmente? Será que você contribui para a dispersão dos padrões de beleza? Será que você tem preconceitos sobre pessoas com excesso de peso? Será que você valoriza mais os aspectos físicos dos seus alunos? (e entenda alunos também como clientes e/ou pacientes);

– Evite estereotipar e resumir os indivíduos que sofrem de anorexia àqueles que não comem, os com bulimia àqueles que vomitam, e os obesos como fracassados preguiçosos. São questões muito mais complexas, multifatoriais, que exigem tratamento interdisciplinar;

– Não julgue seu aluno, tenha uma postura empática, coloque-se no lugar dele e tente compreender suas dificuldades e sentir suas emoções;

– Tenha cuidado na hora de dar feedbacks. Esforce-se para ressaltar os ganhos de todos os alunos. E se precisar chamar a atenção, lembre-se de que ninguém é perfeito, comece enfatizando os pontos positivos do aluno para depois chegar aos negativos. E ressalte que é possível melhorá-los, basta praticar, e que você está lá para ajudá-lo.

– Não foque a importância de se exercitar apenas na queima de calorias. Existem tantos impactos positivos na saúde quando se pratica uma atividade física regularmente, auxilie seu aluno a ampliar esta visão;

– Se for necessário fazer medidas antropométricas faça a medida de costas para a balança e pergunte ao seu aluno se ele quer saber o peso. E não faça comentários, evite esboçar expressões faciais que possam ser mal interpretadas pelo seu aluno. Para algumas pessoas é muito constrangedor despir-se e subir na balança, principalmente, para as crianças que estão acima do peso, por exemplo.

– E por fim, esforce para criar um ambiente agradável onde seu aluno terá prazer em se exercitar porque ele confia que você está ali para auxiliá-lo e não julgá-lo.

Especialmente no âmbito escolar, evite divisões de times de acordo com a escolha dos alunos mais habilidosos, diversifique, para que todo mundo consiga expor seus pontos fortes.

Para saber mais, destaco alguns sites para auxiliar na elaboração de aulas e discussões:

http://www.acsm.org/access-public-information/position-stands

http://www.acsm.org/access-public-information/acsm-journals

http://www.beautyredefined.net/

http://www.ijbnpa.org/

http://www.cdc.gov/mmwr/preview/mmwrhtml/rr6005a1.htm

http://www.cdc.gov/obesity/childhood/problem.html

http://www.newmovesonline.com/



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