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Como posso ser um agente na prevenção de transtornos alimentares?


Por Pedro Henrique Berbert de Carvalho, Educador Físico

Desde o início dos anos 80 diversos programas foram desenvolvidos para reduzir e/ou prevenir os distúrbios de imagem corporal e os comportamentos alimentares desordenados. O crescimento no número de programas de prevenção é fundamental, uma vez que os transtornos alimentares são psicopatologias com elevada cronicidade, alto risco de mortalidade, e geram prejuízos biopsicossociais aos pacientes e familiares. Quem nunca ouviu que prevenir é melhor que remediar?

Diversas são as abordagens existentes para a prevenção de transtornos alimentares. A primeira geração ficou marcada pelas abordagens psicoeducativas, baseadas na adaptação de técnicas de aconselhamento psicológico e clínico para serem implementadas em ambientes escolares. A segunda geração teve como base a apresentação didática de conteúdos, direcionadas a fatores de risco já estabelecidos na literatura científica. Já a terceira geração, mais atual, é representada por programas direcionados a fatores de risco cientificamente comprovados, com sessões interativas, e utilização de princípios da Psicologia Social.

Alguns estudos de revisão buscaram avaliar a eficácia e efetividade destes programas preventivos (STICE et al., 2007; STICE et al., 2013; STICE et al., 2019). Em resumo, essas revisões apontam que programas com maior número de sessões, de natureza interativa e direcionados a populações seletivas (populações que apresentam elevado risco para desenvolvimento de transtornos alimentares, como adolescentes do sexo feminino) são mais efetivos e eficazes. Nestes estudos os autores destacam um programa denominado Body Project (STICE et al., 2000). O programa ocorre em sessões que estimulam os participantes a verbalizar e agir contra o padrão de beleza veiculado socialmente, por meio de exercícios verbais, escritos e comportamentais. Ou seja, tem como foco a redução da internalização dos ideais de corpo, o aumento da autoestima e a promoção de uma imagem corporal mais positiva. O Body Project tem como fundamento a teoria da dissonância cogni­tiva, de modo que estratégias de crítica ao ideal de beleza social, o entendimento sobre os prejuízos a internalização destes ideais e formas de combate a esses padrões estimulam a restauração do equilíbrio psicológico dos participantes.

Você deve estar se perguntando: Como posso ser um agente na prevenção de transtornos alimentares se não tenho treinamento para aplicar o programa? Simples. Você pode aplicar algumas estratégias utilizadas neste programa em seu dia-a-dia de modo a se ajudar e ajudar a comunidade ao seu redor. Aqui vão algumas dicas:

-Direcione sua atenção à funcionalidade de seu corpo e das pessoas ao seu redor;

-Procure elencar características positivas de seu corpo e dos outros, sejam elas físicas, atitudinais ou comportamentais;

-Evite comentários negativos sobre seu corpo e o de outras pessoas;

-Mais do que isso, treine a si mesmo e as pessoas ao seu redor para não aceitar críticas de outras pessoas quanto à estética corporal. Saiba como interromper/desviar de conversas negativas sobre o corpo;

-Seja crítico (a) sobre as mensagens veiculadas na mídia. Na sua grande maioria essas imagens são modificadas, editadas, e tem como propósito criar necessidades de consumo;

-Aceite elogios. Ao invés de dizer: “São seus olhos”, diga apenas “Obrigado (a)!”.

Você pode não ser um especialista em transtornos alimentares ou mesmo em programas preventivos, mas isso não significa que não possa ajudar a criar uma atmosfera mais positiva em sua comunidade. Perspectivas teóricas sugerem que os comportamentos alimentares desordenados possuem direta relação com o contexto sociocultural, nos quais comentários negativos sobre o corpo, a propagação dos ideais de beleza e a comparação social podem servir como fatores de risco.

Faça sua parte, seja um agente na prevenção de transtornos alimentares!

 

Referências

STICE, E. et al. Dissonance prevention program decreases thin-ideal internali­zation, body dissatisfaction, dieting, negative affect, and bulimic symptoms: A preliminar experiment. International Journal of Eating Disorders, v. 27, n. 2, p. 206-217, 2000.

STICE, E. et al. A meta-analytic review of eating disorder prevention programs: Encouraging findings. Annual Review of Clinical Psy­chology, v. 3, p. 207-231, 2007.

STICE, E. et al. Eating disorder prevention: Current evi­dence-base and future directions. International Journal of Eating Disorders, v. 46, n. 5, p. 478-485, 2013.

STICE, E. et al. Meta-analytic review of dissonance-based eating disorder prevention programs: Intervention, participant, and facilitator features that predict larger effects. Clinical Psychology Review, v. 70, p. 91-107, 2019.



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