Por Ana Carolina Pereira Costa, nutricionista
Ultimamente tenho lido e estudado bastante sobre autocompaixão, que é a habilidade de reconhecer e aceitar de modo gentil e acolhedor nosso sofrimento, nossas experiências negativas e nossas imperfeições. Vários estudos já apontam que a autocompaixão atua como fator protetor de distúrbios de imagem corporal e sintomatologia de transtorno alimentar, tanto em populações clínicas quanto em não clínicas.
Inclusive, recentemente fala-se em pesquisas sobre body compassion, ou compaixão corporal, que também está associada com menores níveis de comer transtornado. Compaixão corporal é um construto multidimensional que envolve três fatores:
Acho que não preciso dizer que, para a maioria das pessoas, esses três fatores parecem não ser a realidade vivenciada. De fato, desenvolver e exercitar mais compaixão com nosso corpo não é necessariamente fácil, e requer antes de mais nada desejo e intenção. Precisamos querer nos sentir mais à vontade em nossa “morada” e sermos mais gentis conosco mesmo. É fundamental que haja um esforço ativo nessa direção. Numa sociedade que se beneficia economicamente da nossa insatisfação, aceitar e respeitar nosso corpo não vem de graça.
Um dos principais caminhos para se desenvolver os fatores da compaixão corporal é meditando, isto é, praticandomindfulness (ou atenção plena). Meditar é ser investigador da própria mente, e confesso que é algo que tenho adorado fazer! Outra via que para mim faz bastante sentido é a leitura. Dois livros que falam especificamente sobre sermos mais gentis com a gente mesmo e com nosso corpo são: “Autocompaixão“, da autora Kristin Neff e “Body kindness“, da autoraRebecca Scritchfield (que inclusive estará no 5o Simpósio de Nutrição Comportamental, em setembro).
Um conselho que considero importante: tenha paciência com seu processo de autocompaixão e compaixão corporal. Os movimentos atuais de body positivity (positividade corporal) são importantes e valiosos, mas não se cobre excessivamente, nem mesmo para aceitar seu corpo! Isso só tende a gerar mais sofrimento.
Um dos grandes nomes da autocompaixão no mundo é a autora americana Sharon Salzberg. Ela conta num texto que, na década de 90, assistiu a uma palestra do Dalai Lama numa conferência científica e questionou a ele: “Sua Santidade Dalai Lama, o que você pensa sobre auto-ódio?” (o termo que ela usou foi self hatred). Inicialmente ele não entendeu o que ela estava querendo dizer. Após inúmeras tentativas do tradutor de explicar a ele o significado do termo, ele exclamou espantado: “Como vocês ocidentais podem sentir-se dessa forma? Vocês todos são preciosos, têm a natureza do Buda dentro de si!”
Que possamos todos apreciar um pouco mais esse corpo em que habitamos.
Para saber mais:
The buffer effect of body compassion on the associationbetween shame and body and eating difficulties. Appetite (2018).
Brief self-compassion meditation training for body imagedistress in young adult women. Body Image (2016).
Self-compassion, body image, and disordered eating: A reviewof the literature. Body Image (2016).