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Comparação? Não!


Por Pedro Henrique Berbert de Carvalho, profissional de educação física

Você já se comparou com outras pessoas? Já avaliou sua aparência física ou comparou sua dieta com a de pessoas próximas (familiares, amigos, amigas, entre outras)? Possivelmente sua resposta a essas perguntas foi: SIM! Calma, isso é comum e faz parte da rotina dos seres humanos. No entanto, podemos nos perguntar: isso faz mal?

Leon Festinger, psicólogo nova-iorquino, desenvolveu já há algum tempo a Teoria da Comparação Social1, que nos ajuda entender melhor como funciona esse processo. Para Festinger, existe no ser humano uma busca por avaliar as próprias opiniões e habilidades, o que, segundo o autor, é inerente ao organismo humano. Assim, as pessoas recorrem a informações externas a fim de obter conhecimento sobre si e o mundo.

Um exemplo simples e ilustrativo é a realização de uma prova, uma avaliação. Possivelmente, você já passou por situações na qual foi avaliado e quase que naturalmente perguntou a um colega ou amiga: quantos pontos você fez? Os seres humanos apresentam necessidades básicas, como manter uma estável e acurada visão de si mesmo, e assim procuram obter um feedback sobre suas opiniões e habilidades por meio da comparação de si com outros indivíduos.

Pode-se dizer que a comparação social é um processo natural e importante para os sujeitos. Porém, devemos ter atenção ao padrão de comparação escolhido. Festinger indica que podemos escolher padrões de comparação superiores, inferiores ou similares. E é aqui que mora o grande perigo!

Nosso processo cognitivo busca ser eficaz, rápido e eficiente. Assim, quase que instantaneamente recorremos a padrões de comparações superiores, ou seja, agimos de maneira não-intencional. Por exemplo, ao pensar sobre nossa aparência física nos comparamos com modelos, artistas e pessoas famosas, e não com pessoas próxima, da mesma faixa etária, com a mesma rotina de vida. Ao buscar informações sobre nossas habilidades físicas nos comparamos com pessoas mais treinadas, como amigos que são referências para nós no “assunto” ou mesmo com atletas.

A essa altura você já percebeu o problema. Comparação com padrões superiores nos levam a consequências negativas, como diminuição da autoestima, do sentimento de autoeficiência, autoeficácia e competência.

Estudo de revisão2 que incluiu 156 trabalhos indica que a frequência da comparação social está diretamente relacionada ao desenvolvimento de insatisfação corporal tanto em homens quanto em mulheres. A comparação social também exerce influência sobre o comportamento alimentar, por exemplo, na quantidade de alimento ingerido3, podendo gerar restrição alimentar. Vale lembrar que tanto a insatisfação com o corpo, como a restrição alimentar são aspectos importantes para o desenvolvimento de transtornos alimentares.

Diante disso, temos uma tarefa importante: atenção às nossas escolhas. Devemos procurar avaliar adequadamente os modelos ou padrões que selecionamos. Comparar-se com outras pessoas pode ser um processo natural, mas isso não significa ausência de controle, crítica ou consciência no processo. De que adianta comparar sua velocidade na corrida com a de um atleta de elite? De que serve comparar seu corpo a de uma modelo profissional ou “musa fitness”?

Então… Comparação? Não!

Referências:

1. Festinger, L. (1954). A theory of social comparison processes. Human Relations, 7(2), 117-140.

2. Myers, T. A., & Crowther, J. H. (2009). Social comparison as a predictor of body dissatisfaction: A meta-analytic review. Journal of Abnormal Psychology, 118(4), 683-698.

3. Polivy, J., & Pliner, P. (2015). ?She got more than me?. Social comparison and the social context of eating. Appetite, 86, 88-95.



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