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Por Ester Soares, nutricionista
“Vivemos um paradoxo alimentar, com a oferta abundante de comida e estímulo ao consumo, e com os ideais de magreza inalcançáveis. Os índices de obesidade e dos transtornos alimentares não param de aumentar.” ( Dunker; Alvarenga et al., 2015, p.445)
Recentemente, a Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara dos Deputados trouxe uma proposta que determina que os estabelecimentos comerciais devem informar o número de calorias no seu cardápio. O texto determina ainda que as casas alertem os consumidores sobre os perigos do sobrepeso e da obesidade para a saúde. Isto no cardápio!
Medo! Comer pode fazer mal à saúde!
Lamentavelmente, algumas pessoas concordam com estas práticas como prevenção à obesidade e entendem que isto pode colaborar para o aumento de campo de trabalho para nutricionistas. Ora, profissionais sérios que somos, da área de saúde, entendemos que não somos contadores de calorias e que este tipo de argumento só contribui com o comer transtornado.
Imaginem: “Garçom, por favor, quero este prato com menos de 200 calorias, obrigada!”
Estas estratégias têm sido mostradas totalmente ineficazes com resultados insatisfatórios no tratamento de obesidade. Pois o foco neurótico, apenas no conteúdo nutricional, acaba contribuindo para uma preocupação excessiva com a alimentação e o peso, além da estigmatização corporal e diminuição da autoestima.
A autonomia alimentar depende do próprio sujeito, mas também do ambiente onde ele vive. Isto inclui, segundo o Guia Alimentar para a População Brasileira, a forma de organização da sociedade e suas leis, os valores culturais e o acesso à educação e a serviços de saúde. Repito: acesso à educação e a serviços de saúde!
Sugiro para os nobres deputados a leitura do Guia Alimentar para a População Brasileira. O guia é um documento oficial que aborda os princípios e as recomendações de uma alimentação adequada e saudável para a população brasileira, configurando-se como instrumento de apoio às ações de educação alimentar e nutricional no SUS e também em outros setores.
Referências:
Dunker, Karen, Alvarenga, Marle et al. Nutrição Comportamental na prevenção conjunta de obesidade e comer transtornado. In: Nutrição Comportamental, Marle Alvarenga et al, Barueri, SP: Manole, 2015
Brasil. Ministério da Saúde. Guia alimentar para a população brasileira. . Brasília: MS; 2016.