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De bela a fera em poucos anos


Por Marcela Salim Kotait, nutricionista
Dos assuntos que me fascinam, sem dúvida “ditadura” ou padrão de beleza está nos mais mais da minha lista.
A curiosidade em torno do tema faz com que eu pesquise sobre a mulher, o feminino, o feminismo, o papel da mulher na sociedade, entre outros…
Decidi escrever sobre esse assunto pois, como nutricionista, acho que é nosso papel dialogar sobre e empoderar nossas pacientes em suas relações com seus corpos.

Pois bem, me permito explicar resumidamente sobre a mudança que o corpo desejado de mulher passou ao longo dos anos:
Na pré história, curvas excessivas significavam fortuna, pequenos amuletos de mulheres com medidas desproporcionais de seios, barriga e coxas eram carregados para cima e para baixo por homens que buscavam proteção, além de sorte e fortuna. Ainda há muito tempo, na antiguidade, o corpo ideal era bem diferente do rechonchudo pré histórico: com as competições esportivas, corpos musculosos e definidos eram corriqueiramente retratados em estátuas e outras representações.

Na idade média, mais uma grande mudança: face corada, corpo curvilíneo e uma barriguinha saliente eram o modelo. A Vênus era sempre representada de maneira vaidosa e graciosa em quadros da época.
Avançando bastante pelos anos, com o fim da primeira guerra mundial, no anos 1920, muitas mulheres, após terem seus maridos mortos em combate ou incapazes de voltar ao mercado de trabalho, assumem uma postura nova, que demandava um visual mais masculino, corpos longilíneos e magros, além de optarem por cabelos curtos.

Os anos 1940 e 50 foram dominados por Marilyn Monroe. Quem não conhece a loira que deixou os estúdios de Hollywood de pernas pro ar? Linda e sedutora, usava sua sensualidade e curvas acentuadas como grande atrativo. Uma curiosidade: os estúdios americanos aumentavam as medidas da loira, enquanto os costureiros juravam de pés juntos que alguns centímetros divulgados não eram reais.
Uma década depois, em 1960, a modelo Twiggy surge e traz consigo um visual muito diferente do conhecido até então: extremamente magra, jeitão andrógeno, cílios com muito rímel e pose blasé.

Chegam então os anos 1980 e 1990, a era das supermodelos: Linda Evangelista, Cindy Crawford, Claudia Schiffer são algumas das mais conhecidas. Não deixe de assistir a esse clipe do cantor George Michael, da música “Freedom” (veja aqui) e veja como essas mulheres eram mesmo maravilhosas.
Nos não muito distantes anos 2000 temos o ícone máximo da moda mundial: Gisele Bündchen, a modelo mais bem paga do mundo, dispensa apresentações. Quem não se lembra da “barriga negativa” da Gisele? Dos cabelos lisos com cachos nas pontas loiras, queimadas de sol? A simetria alardeada pela mídia de seu rosto?

Para encerrar, chegamos aos anos 2010. E vivemos atualmente um novo padrão: o da mulher fitness. A crença de que podemos moldar nossos corpos com ajuda de suplementos e academia faz com que muitas arrisquem-se com dietas malucas e exercícios físicos exagerados para terem o corpo parecido com o de mulheres extremamente fortes com pouquíssima gordura que dominam a cena. Ou, no caso da conhecida socialite americana, Kim Kardashian, um bumbum desproporcional em relação ao resto do corpo é modelo para muitas meninas.

O que quero expor é a volatilidade do padrão, da regra, da norma, do modelo, do ideal. Penso em mulheres mais velhas, que durante a vida viram quatro ou cinco tipos corporais completamente diferentes serem enfiados goela abaixo pela TV, revistas e internet como ideais para todas. Questiono então se é possível continuarmos a pautar a beleza como algo único e exclusivo de um determinado biotipo, fincado numa modelo/celebridade/artista/famosa ditando qual o corte de cabelo devemos ter ou qual circunferência de cintura é mais bonita.
Questiono se não estamos indo na contra mão da saúde e se sempre fomos.

Questiono se não devemos ensinar às meninas, cada vez mais insatisfeitas com seus corpos, a se amarem.
Questiono se existe somente um tipo de beleza.

E, por fim, peço que faça uma reflexão íntima e verdadeira sobre sua relação com seu corpo. O que você faz para amá-lo mais? O que faz para tornar sua relação com ele melhor? Até quando buscaremos por modelos e padrões inalcançáveis de beleza?



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