Pela nutricionista Ana Carolina Costa
Esses dias atendi uma jovem paciente – leia-se: uma mulher de 36 anos – que me contou que estava feliz pois naquela semana iria comer melhor, já que havia abastecido o freezer com comida congelada preparada pela mãe e pela avó. E essa não é a primeira paciente que estrutura a semana alimentar tendo como base suas comidas prediletas preparadas por entes queridas (geralmente são entes do sexo feminino mesmo). Depois da consulta, não pude deixar de pensar no seguinte: e quando essas mães e avós morrerem? Qual será nosso futuro alimentar?
Falo aqui por experiência própria: tenho 32 anos, moro com meus pais e a cozinha não é um campo onde exerço minha máxima autonomia. Cozinhar requer tempo, um objeto que anda escasso para muita gente, especialmente para a minha geração, que está sempre tão ocupada com demandas cada vez mais numerosas. E lavar a louça, então? Eu até gosto, para mim é um momento meditativo, mas estragas as unhas – que por sinal “precisam” estar sempre bem feitas, compridas, pintadas… Cozinhar também requer criatividade, confiança em si mesmo e um desejo profundo de querer se cuidar e se tratar bem, virtudes que têm estado meio apagadas na nossa sociedade contemporânea.
Mas é inegável a liberdade que o cozinhar traz. O empoderamento, a autoexploração, a redução de custos… E o que será das futuras gerações se não tiverem novas mães e avós que cozinhem para si também?
Esse é meu compromisso para o ano de 2021: cozinhar mais – e me descobrir nesse caminho.