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“Eu achei que o meu livro mudaria o mundo. Como as coisas ficaram piores?”: Susie Orbach


Por Marcela Nunes Paulino de Carvalho, psicóloga

Na celebração de 40 anos de seu livro Fat is a feminist issue (traduação livre: Gordura é uma questão feminista), Susie Orbach, psicóloga/psicanalista, há cerca de um ano atrás, em entrevista ao The Guardian, revisitou as considerações importantes que fez quanto aos imperativos de beleza impostos às mulheres.

Na época em que escreveu seu livro (1978), a autora tinha por objetivo analisar e propor soluções para problemas com o corpo e com a alimentação. Ela se concentrou no público feminino e suas relações de desigualdade para com os homens num mundo visto como machista. A década de 70 foi fundamental para repensar o lugar social que a mulher ocupava nas famílias, na educação, no trabalho e o reflexo disso tudo no corpo, na alimentação, nas vestimentas e na busca desenfreada para se adequar a um modelo específico.

Até então, as mulheres viviam a experiência de se preocuparem com a sua alimentação e com excessos de gordura. Tais preocupações estavam em favor de agradar os homens e seus desejos. O movimento feminista buscava lutar contra a homogeneidade do que representaria o belo; contudo, Orbach revela que naquele período não foi possível observar que a ação das indústrias sobre a venda de corpos ideais já estava em pleno funcionamento. Atualmente, percebemos que a indústria da beleza se alimenta da insegurança que as pessoas têm com os seus corpos. As redes sociais e os blogueiros são apenas resultado deste lento e antigo movimento das mídias e das corporações.

Os maus sentimentos com o corpo e a depreciação do mesmo, tornaram-se comuns entre as pessoas. A comparação de corpos direcionada para a busca da perfeição é maciça e a oferta de discursos que envolvem dieta, cirurgias plásticas, moda, alimentos, exercícios físicos são camuflados pela justificativa da saúde, quando na verdade, são promissores do adoecimento.

Cada vez mais cedo, o corpo é colocado como objeto de agrado e entrega ao outro. Assim, a sexualização é mais precoce nas fases do desenvolvimento, atingindo, facilmente, os pré-adolescentes. A tecnologia associada à comunicação de estereótipos da beleza está normalizando a montagem e desmontagem de corpos por meio de cirurgias e da relação adoecida com a comida. Susie Orbach finaliza a sua entrevista dando um alerta para a necessidade de termos um olhar crítico para a cadência de acontecimentos que nos levaram a consequências drásticas quando o assunto é a relação com o corpo, com a alimentação e com o sofrimento advindo da soma de todos esses fatores. Por fim, ela ressalta a importância de transmitir as informações e as reflexões ligadas ao assunto contemplado neste artigo, a fim de promover mudanças e priorizar a saúde de todo e qualquer indivíduo.

 

Texto original publicado na ASTRAL – Associação Brasileira de Transtornos Alimentares

Fonte da entrevista: https://www.theguardian.com/society/2018/jun/24/forty-years-since-fat-is-a-feminist-issue

Fonte da Imagem: Kellie Jerrard (Cover Illustration – Beauty Economy Report – Raconteur – The Times).

 

Referência bibliográfica:

SANT’ANNA, Denise B. História da beleza no Brasil. São Paulo: Contexto, 2014.

WOLF, Naomi. O mito da beleza. Rio de Janeiro: Rocco, 1992.



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