Por Camila Lafetá Sesana, nutricionista
Entre 25 de fevereiro e 3 de março, a National Eating Disorders Association (NEDA), a maior entidade sem fins lucrativos de apoio a pessoas com transtornos alimentares (TA) e suas famílias, mobilizou redes sociais e imprensa com a semana de conscientização sobre os TA, a National Eating Disorders Awareness Week. O tema de 2019 foi Come as You Are, um chamado para a inclusão, para que pessoas dos mais variados tamanhos e em qualquer ponto no caminho para a melhora tenham sua voz ouvida. “Venha como você estiver, não como acha que deveria estar”.
Uma das iniciativas da campanha foi a realização de uma parceria com o Instagram, para que os usuários tentem melhorar sua experiência no app. Recentemente, um documento elaborado pela Royal Society for Public Health revelou que o Instagram era a rede social mais prejudicial à saúde mental de jovens britânicos entre 14 e 24 anos, impactando negativamente sua imagem corporal e sono, aumentando sua exposição a bullying e ao FOMO, sigla para a expressão “Fear of Missing Out”, ou medo de ficar por fora dos últimos acontecimentos[1].
O documento conjunto publicado por NEDA e Instagram[2] traz uma espécie de tutorial de “higiene digital”, ensinando como os usuários podem se apropriar do próprio feed, dando unfollow, mute ou block em perfis que tragam mensagens nocivas ou agressivas, além de controlar seu tempo de exposição (Configurações > Sua Atividade > Definir lembrete) e moderar comentários (Configurações > Notificações > Posts, stories e comentários).
De original, a parceira traz a seguinte provocação: como você acha que pode refletir, em sua vida online, o fato de que a vida tem altos e baixos, momentos felizes e conturbados? Você acha muito difícil postar uma foto ou uma selfie sem filtros e edição? Imaginem a possibilidade de uma adolescente hoje chegar aos 30 anos sem ter uma única foto de si mesma que não tenha sido “melhorada”. Como ela lidará com sua imagem real no espelho?
Cada vez mais, a internet revela-se como uma ferramenta que pode ser tão formidável quanto destrutiva. Nela, é possível formar laços e comunidades de valor inestimável, que nos fazem aprender, refletir e encontrar pertencimento. Por outro lado, é difícil evitar a enxurrada de mentiras, desinformação proposital, propaganda oculta e negatividade.
Ainda há muito a rever e a modificar no funcionamento das redes sociais no que diz respeito à saúde mental. Há muito o que discutir – deveria ser óbvio, mas infelizmente não é o que se vê – sobre o papel das famílias no uso indiscriminado do app por crianças e adolescentes. A disposição do Instagram de ouvir quem conhece bem o que está no doloroso ponto final da cultura da insatisfação é um primeiro passo louvável.
[1] https://www.rsph.org.uk/uploads/assets/uploaded/62be270a-a55f-4719-ad668c2ec7a74c2a.pdf
[2] https://www.nationaleatingdisorders.org/sites/default/files/IG%20x%20NEDA%20guide.pdf