Por Juliana Vega, nutricionista
Imagine uma família em que cada pessoa habitualmente come em um cômodo da casa, em horários diferentes, comidas geralmente trazidas por um aplicativo de celular. Ou aquela criança que come em uma mesinha na frente da TV enquanto o pai faz a refeição sentado no sofá e a mãe não come porque faz uma “dieta para emagrecer”. Ou aqueles pais cuidadosos, que preparam alimentos especiais para o bebê comer no seu cadeirão, sozinho, distraído por uma tela por que assim ele “aceita melhor” a comida. O que todos esses cenários têm em comum? Que ingrediente essencial não está presente em nenhuma dessas situações? Independentemente do motivo, todos esses exemplos desconsideram algo estrutural da vida humana: a importância de comer em família.
Considero “família” qualquer número de pessoas que compartilham uma vida juntas e cuidam e olham umas pelas outras. E alimentação faz parte desse cuidado. Por essa razão, é urgente a necessidade de resgatarmos esse momento tão precioso que está se perdendo com o estilo atual de vida, principalmente nas grandes cidades.
Comer junto é uma prática passada de geração em geração, que faz parte da história da humanidade. Compartilhar a mesma refeição, nos dá identidade, sensação de importância, de pertencimento a um grupo, essencial para o desenvolvimento saudável das crianças e dos adolescentes. Comendo juntos, eles aprendem observando os outros membros da família, aprendem sendo expostos a uma variedade alimentar com ritmo e regularidade. Comendo juntos, estamos dando às crianças a oportunidade de aprender habilidades de vida que serão importantes não apenas relacionados à alimentação, porque são esses os momentos de encontro, conexão, prazer e divertimento do dia. Estamos respeitando nossa humanidade, que sobreviveu a condições adversas por ter a capacidade de cozinhar e compartilhar refeições, independente da cultura, da região, do ambiente. Comer junto, compartilhar o mesmo alimento é algo que caminha com a nossa sobrevivência como espécie. É sobre relações humanas e conexão com o divino.
Convido você a ampliar o olhar e aos poucos ensinar aos seus filhos que refeição em família é mais sobre pessoas do que sobre comida. É mais sobre encontros do que sobre nutrientes. É sobre amor, cuidado com você e com as pessoas com quem compartilhamos a vida. Comer é consequência de um ambiente que oferece oportunidade de aprendizado constante, de forma segura e respeitosa. Que esse ingrediente nunca falte em suas refeições!