Por Marcela Salim Kotait, nutricionista
Tenho muito para falar das minhas férias. Passei alguns dias no Japão e poderia escrever páginas e mais páginas sobre essa incrível experiência, mas não posso deixar de dividir com vocês algo inesperado que me deixou intrigada.
Não imaginava que conseguiria ver de maneira tão concreta a tal “ditadura da beleza”. Talvez tenha sido fácil para eu julgar, já que estava longe da minha cultura e das pessoas/coisas que estou habituada a ver.
Nos outdoors e propagandas na (linda) cidade de Tóquio, mulheres mostrando suas rugas e marcas de expressão sendo magicamente eliminadas após usarem cremes e máscaras.
Nas enormes lojas, a difícil decisão: qual massageador, em meio a centenas de opções, é mais potente para deixar o rosto mais fino? Nos corredores infinitos das farmácias, qual aparelho de “ginástica facial” é o mais indicado para que o pescoço fique mais firme?
Pequenos adesivos plásticos são usados para alterar a curvatura das pálpebras, assim os olhos parecem ocidentalizados. Centenas de cores de lentes de contato, paredes cobertas por cílios postiços. Uma infinidade de opções de maquiagens, isso sem falar dos pós e loções para deixar a pele mais branca e pálida. Elásticos e palmilhas para parecer mais alta, meias de compressão para parecer mais magra.
Numa tarde, entre um museu e um templo, fui parar sem querer numa sala enorme, cheia de máquinas de fotos, onde muitas meninas, enquanto esperavam em fila para os flashes, se maquiam quase obsessivamente. A função dessas máquinas? Cada uma delas contava uma temática diferente, mas a função era a mesma para todas: você pode, com a edição das fotos reais feitas pelas máquinas, se transformar em bonecas de olhos arregalados e cabelos cacheados, cantoras americanas de olhos claros e loiras, ou ainda, desenhos animados de heroínas altas e também tradicionalmente de olhos grandes. No fim, a máquina imprime as fotos e você leva para casa essa lembrança.
Enquanto a beleza natural do país me encantava a cada segundo, a luta das meninas e mulheres para não se parecerem com suas mães e avós me entristeceu. Acredito que a maneira que vivi essa experiência foi facilitada pela distancia cultural e emocional, mas me pergunto se agora no meu país, vivendo minha cultura, também não esteja afundada em regras e pressões para seguir um padrão.
Acredito que devemos ensinar as meninas do mundo todo a beleza da pluralidade de corpos e formas, cabelos e cores de olhos. Que nossas diferenças são o que nos torna tão lindas. As brasileiras diferentes das japonesas, as australianas diferentes das ucranianas e assim, em uma próxima visita, quem sabe as máquinas de fotografia da Barbie estejam num museu.