Por Iamara Seara Medeiros, nutricionista
Esta semana escutei algo que profissional nenhum gosta de escutar, mas não nego que seja pertinente à minha maneira de trabalhar. Bem, ouvi de terceiros que um(a) paciente indeterminado(a) não passará mais em consulta comigo porque não dou dieta.
No primeiro momento pensei: como assim? Passados uns segundos de indignação, refleti que é verdade. Muitas pessoas chegam no meu consultório querendo uma dieta, um cardápio, querem que eu faça uma lista do que podem e o que não podem comer, o que é pior dentro de uma dieta, qual suco é menos calórico, qual alimento aumenta o metabolismo ou se ?gojy berry? é milagroso.
Sou uma nutricionista que dou trabalho. Eu particularmente não emagreço ninguém. E para aqueles pacientes que querem ser emagrecidos (na forma passiva, sem ter trabalho), minha maneira de atuar talvez não funcione. Mas me dei ao direito de explicar: como posso eu, simples nutricionista, definir o que meu paciente irá comer no café da manhã, almoço e jantar, entre o tempo de uma consulta e outra, se não sei se estará frio, calor, se ele ficará em casa, se vai receber visita, se terá um happy hour, uma reunião, se vai ganhar um bombom de alguém, se teve tempo de fazer compras, se acordou de madrugada, se está triste, feliz, se foi promovido, se foi demitido, se está com mais fome, se está com menos fome, se está com vontade de comer doce, se está com vontade de comer salgado ou terá que viajar a trabalho… Ufa!
A primeira conversa que tenho normalmente é sobre como será interessante melhorar a qualidade da alimentação. Adoro explicar como nosso corpo trabalha, como nosso metabolismo funciona, com estímulo certo ele responde da forma como queremos. O segundo passo é saber o quanto é preciso comer para garantir esta qualidade. Terminada esta fase reforço a importância do planejamento: a alimentação não precisa ser a primeira prioridade, mas nunca deve ser a última. A fome é fisiológica; ela virá quer você queira ou não, reconheça ou não. Comer e respirar faremos ate o último suspiro de nossas vidas.
Continuando a conversa, passamos para a percepção de fome e saciedade, e a esta altura do nosso entrosamento já estamos falando de emoção, motivação, de você se olhar, se perceber, se respeitar, se admirar. E isto dá um trabalho… Imensamente prazeroso, gratificante, que me faz querer a cada dia ser melhor do que hoje eu sou, diferente, é verdade, mas com um olhar completamente apaixonado pelo paciente e sua paciência que, ao me escutar, revela suas dificuldades. Dificuldades estas que juntos tentaremos superar, como juntos comemoraremos aquelas já superadas.
É uma parceria que se fortalece na base da confiança e respeito, e não da imposição do dever de comer isto ou aquilo, mas no conhecer e saber como comer isto ou aquilo. Quem quer ser emagrecido não sabe reconhecer estes estágios, perder peso é só uma consequência. Quem conhece respeita, quem respeita ama, e quem ama cuida! Seu corpo é você! Não deixe ninguém fazer o que somente você pode fazer!
Pois bem. Terminei minha reflexão pensando que dar uma dieta é entregar o peixe pronto na mão de quem tem fome. Resultado tão imediatista quanto arriscado. Já reeducar é ensinar esse alguém a pescar. Ainda que demore um pouquinho mais, os resultados estão logo ali e são sustentáveis no tempo!