Um novo estudo sugere que podemos mudar nossas preferências alimentares sem fazer restrições e mantendo o prazer de comer
Por Sophie Deram, nutricionista
Uma pesquisa publicada neste mês de setembro na revista Nutrition & Diabetes observou que é possível mudar o sistema de recompensa no cérebro e as preferências por alimentos, graças a uma intervenção que alia mudança de padrão alimentar e mudança comportamental.
A equipe que fez a pesquisa já tinha mostrado que mudanças comportamentais podem levar a uma diminuição do apetite e do desejo por alimentos ricos em gordura e açúcares.
O estudo, apesar do número muito pequeno de pacientes e de uma série de limitações, é o primeiro a mostrar através de ressonância magnética que a ativação cerebral do desejo por alimentos pode ser alterada por uma intervenção comportamental de seis meses.
O condicionamento das nossas preferências por certos alimentos começa desde a infância.
Pesquisas anteriores tinham sugerido que a vontade por alimentos de alta densidade calórica, uma vez instalada, era impossível de mudar. Com esse estudo, mostraram que é possível reprogramar o cérebro e o condicionamento dele.
Roberts e seus colegas estudaram 13 homens e mulheres com sobrepeso e obesidade.
Eles foram submetidos a ressonância magnética (MRI) do cérebro no início e no final de um período de seis meses. As imagens do cérebro revelaram, no inicio, alterações em áreas do centro da recompensa que controla o desejo por alimentos de alta densidade calórica.
O grupo que participou da intervenção foi incentivado a mudar seu regime alimentar, aumentando o consumo de ítens que contêm mais fibras e proteínas. Depois de seis meses mostraram uma mudança positiva no seus sistema de recompensa, ou seja, eles não desejavam tanto os ítens mais calóricos. Ao contrário, essa área aumentou a sensibilidade a alimentos de baixas calorias, o que indica um aumento da recompensa e do prazer providos por alimentares de baixo teor calórico e ricos em fibras.
O grupo da intervenção, após seis meses, perdeu 6 kg em média (3 vezes mais do que outros participantes sem intervenção) e demonstrou mais atividade cerebral ligada a prazer quando expostos a imagens de alimentos mais saudáveis do que ?junk food?.
Os autores sugerem que várias características da intervenção foram importantes, incluindo a educação, mudança de comportamento e incentivo a comer alimentos com alto teor de fibras.
Esse estudo, mesmo que pequeno, é uma indicação do que é possível mudar o comportamento alimentar. É muito interessante porque está a favor de treinar o cérebro a transformar a relação com alimentos para desenvolver gostos e hábitos mais saudáveis, em vez de restringir ou cortar alimentos considerados mais gostosos.
Transformando a relação com alimentos até que as mudanças virem hábitos, isso é provavelmente a chave de um peso saudável sustentável. Você se condiciona e sente prazer com um novo estilo de vida, de maneira sustentável e sem estresse ou privações: você muda o seu paladar e não abre mão do prazer de comer!
Bon appétit!
Fontes:
1) T Deckersbach, S K Das, L E Urban, T Salinardi, P Batra, A M Rodman, A R Arulpragasam, D D Dougherty and S B Roberts. Pilot randomized trial demonstrating reversal of obesity-related abnormalities in reward system responsivity to food cues with a behavioral intervention. Nutrition & Diabetes (2014) 4, e129
http://www.nature.com/nutd/journal/v4/n9/full/nutd201426a.html
2) Batra P, Das S, Salinardi T, Robinson L, Saltzman E, Scott T et al. Eating behaviors as predictors of weight loss in a 6 month weight loss intervention.Obesity (Silver Spring) 2013; 21: 2256?2263.
3) Batra P, Das SK, Salinardi T, Robinson L, Saltzman E, Scott T et al. Relationship of cravings with weight loss and hunger. Results from a 6 month worksite weight loss intervention. Appetite 2013; 69: 1?7.