Pela nutricionista Manuela Capezzuto
Desde 1992, o dia 06 de maio é marcado pela comemoração do dia internacional sem dieta. O movimento global, foi criado pela feminista inglesa Mary Evans Young, que, após ter passado por um quadro de anorexia nervosa, episódios de bullyng e muitas dietas restritivas, propôs uma reviravolta na forma como nos relacionamos com a comida e com nossos corpos.
Naquela época, questionou às mulheres o seguinte: o que vocês acham que aconteceria se gastássemos a mesma energia e dinheiro em nossas carreiras que gastamos em dietas? Essa pergunta tão atemporal estremece e incomoda a muitos, o que não foi diferente quando inicialmente foi proposta. O movimento criou asas e ganhou adeptos em inúmeros países além da Inglaterra, seu berço.
Atualmente, algumas atividades são sugeridas em tal dia, como cozinhar algo gostoso, postar em suas redes sociais e ainda apreciar o seu corpo, como ele é, não deixando de fazer algo por não estar no padrão. À primeira vista, parecem exercícios muito positivos. Porém, na atual conjuntura, de um país esfomeado, assolado pela pandemia e pobreza, talvez a parte de postar não seja empaticamente interessante. Essa teoria foi levantada em uma reunião do Genta por uma nutricionista querida, quando discutíamos ações para o dia internacional sem dieta.
Entre os dias 5 e 24 dezembro de 2020, O Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19, foi realizado nas cinco regiões brasileiras, incluindo áreas urbanas e rurais. A coleta estimou que 55,2% dos lares brasileiros (116,8 milhões de pessoas) conviveram com algum grau de insegurança alimentar e 9% deles (19 milhões) passaram fome nos três meses anteriores à pesquisa. De fato, não há nada a se comemorar.
O inquérito ainda deu “rosto à fome”, ou seja, em domicílios em que a pessoa responsável é uma mulher, de cor preta ou parda e baixa escolaridade a insegurança é ainda maior.
A situação humana é realmente ambígua, dicotômica e angustiante. Há poucas semanas, uma influencer bastante conhecida optava por iniciar um jejum de dias, teoricamente por razões espirituais. Intercalava seus stories no Instagram, de sua barriga chapada com propagandas de creme redutor de medidas. Também filmava inúmeras comidas e dizia não precisar de nada daquilo. Haja espiritualidade.
Esse texto é apenas uma reflexão sobre o passar fome. É também um convite para repensar a sua relação com a comida, em um momento em que tantos tem tão pouco. O alimento é tão essencial quanto o oxigênio, outro bem escasso por aqui. Lembre-se de que comida é antes de tudo sobrevivência, que seu corpo percebe e reclama alto quando colocado em uma dieta restritiva.
Por fim, diversas instituições estão recebendo doações em forma de dinheiro ou alimentos para distribuir. Se puder, doe!
International No Diet Day (nationaltoday.com)
Pesquisa revela que 19 milhões passaram fome no Brasil no fim de 2020 | Agência Brasil (ebc.com.br)