“Em primeiro lugar, não cause dano”
Por Marle Alvarenga, nutricionista
Neste último sábado, a Clínica de Estudos e Pesquisas em Psicanálise da Anorexia e Bulimia (CEPPAN) promoveu um evento para discutir prevenção de transtornos alimentares. O foco da prevenção é uma ?bandeira? do Genta desde sempre. Infelizmente, o Brasil não tem programas sistematizados de prevenção, e neste sentido estamos muito atrasados comparados ao resto do mundo, inclusive a América Latina, com ações governamentais na Argentina e México, por exemplo.
De qualquer forma, mesmo que você jamais atenda transtornos alimentares, sua postura ao falar de comida, peso, corpo podem fazer muita diferença ? para o bem ou para o mal.
A literatura tem discutido cada vez mais os possíveis efeitos iatrogênicos ? isto é, efeitos adversos causados por um determinado tratamento ? de programas de prevenção de obesidade e de promoção de “vida saudável” desencadeando transtornos alimentares (1-6). Da mesma maneira é preciso repensar nossas atitudes , para que mesmo inadvertidamente elas não desencadeiem atitudes disfuncionais.
Nutricionistas ? e outros profissionais de saúde ? devem ser cuidadosos e sensíveis com suas abordagens e pensar conjuntamente em transtornos alimentares e obesidade quando fazem orientações nutricionais e de saúde. Para pessoas suscetíveis ao desenvolvimento de transtornos alimentares, os conceitos e tabus sobre nutrição, provenientes de profissionais, podem reforçar comportamentos inadequados e contribuir para o desenvolvimento dessas doenças. Por sermos especialistas em alimentação e nutrição, nossas palavras e orientações são consideradas como profissionais e ?confiáveis?, e portanto, deve-se ter muito cuidado para não deixar crenças pessoais, modismos e preconceitos influenciarem as orientações dadas aos pacientes (7).
Você já refletiu sobre isto? O interessante texto de Beatriz Sebroeck no blog “Blá, Blá, Blá da Nutrição” (veja aqui) merece ser lido por TODOS os nutricionistas, e já começa com: “dentre as poucas certezas que tenho, uma em especial insiste em se fortalecer. Incomoda, atrapalha, entristece… eis que nós, nutricionistas, somos grandes promotores de transtornos alimentares”.
Assim, é preciso avaliar o nosso papel na perpetuação da magreza, na estigmatização da gordura, e desafiar as nossas crenças pessoais e culturais sobre alimentação e peso ? e pensar em nossa linguagem, postura, valores quando discutimos comida, saúde e corpo com nossos pacientes, tendo em vista que somos formadores de opinião em relação a estes temas (7).
Mas, antes de tudo, pense no juramento hipocrático, feito pelos médicos, e que deveria constar do juramento de todos profissionais de saúde! “Antes de tudo, que nossas condutas JAMAIS CAUSEM DANO.” (7)
Referências: