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“Twisties”: Como a saúde mental virou pauta nas Olimpíadas de Tóquio


Pela nutricionista Manoela Figueiredo

 

Muitos ainda não entenderam o que a maior ginasta de todos os tempos, a americana Simone Biles, sentiu ao saltar em uma das competições das Olimpíadas.

Mesmo terminando seu salto em pé e não apresentar nenhuma lesão física aparente, o que ela sentiu era concreto e não apenas subjetivo. Ela sofreu um tipo de vertigem, que faz a pessoa perder a noção espacial e o equilíbrio. O famoso “deu um branco”.

Acontece uma desconexão entre mente e corpo. Todo o treinamento desaparece e a pessoa fica literalmente perdida. Só que no caso da Simone, no ar, de ponta cabeça, contando com segundos para desvirar seu corpo e cair em pé e em segurança.

Ela sofreu o que se chama de “twisties” e deixa a atleta insegura, com medo e sem acreditar e confiar em si mesma. E ela de fato pode cair e se machucar gravemente. Eles são conhecidos como “Yips” no baseball, os jogadores perdem suas habilidades temporariamente e não conseguem bater na bola. Suas causas não são totalmente desvendadas mas sabe-se que o medo, a insegurança e a pressão estão fortemente relacionadas.

Quantos atletas sofrem pressões externas e internas e assumem a postura que Simone Biles teve? Não muitos. Porque precisam ser fortes, resistir, desempenhar, performar, agradar o mundo e ganhar medalhas.

Simone Biles desistiu de disputar algumas provas da ginástica artística e trouxe à tona a discussão sobre os cuidados com a saúde mental dos atletas. “Depois da minha apresentação, simplesmente não queria continuar. Temos que proteger nossas mentes e nossos corpos e não apenas sair e fazer o que o mundo quer que façamos”

Um atleta pode se retirar de suas provas? Sim, mas poucos fazem. Por toda a pressão e por correrem o risco de perderem suas carreiras e serem boicotados. A tenista Naomi Osaka, número 2 do mundo, também tem sofrido muito. Foi criticada ao declarar que não daria as entrevistas obrigatórias no torneio de Roland Garros, pois sentia que falar com a imprensa a tirava de seu foco e concentração e de seu equilíbrio emocional. Ela se retirou da competição e também desistiu de Wimbledon. A corredora e medalhista Allyson Felix (@allysonfelix) escreveu sobre o medo que sente e como o valor de cada um de nós não está na performance.

Essas atletas mostraram ao mundo sua vulnerabilidade. Mesmo que não sejamos todos especialistas, entendemos de sofrimento. Que nossa mente, emoções e corpo de vez em quando ficam fora de sintonia. E que não podemos mais menosprezar a saúde mental. Não é frescura!

Transtornos alimentares são muito comuns nos esportes que valorizam a estética corporal e de alta performance. A ginástica artística é dos esportes com maior prevalência  de anorexia nervosa.

 

“Felizmente eu aterrissei em segurança” disse Simone Biles e, felizmente ela, humildemente  e corajosamente compartilhou sobre esse assunto com o mundo, para que possamos refletir mais sobre as exigências que a sociedade tem imposto e atribuído como valor ao corpo, seja na performance esportiva ou na estética. Não somos robôs, somos pessoas que precisam de uma conexão amorosa e cuidadosa entre corpo, mente e emoções.

 

Referências: Netflix: Naomi Osaka: a estrela do tênis Amazon e A Atleta; Amazon: Simone Biles: courage to soar



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