Pela nutricionista Juliana Bergamo Vega
Quando mergulhamos no universo da alimentação infantil, não basta idealizarmos um cardápio nutritivo para as crianças sem considerarmos o contexto que ela está inserida. Isso porque a maneira como a criança é alimentada é tão importante quanto o que ela come.
São inúmeros os estudos que identificam padrões de comportamento dos pais em relação à alimentação dos filhos e os reflexos no comportamento alimentar das crianças.
O modelo autoritário de cuidados em relação à alimentação é um dos mais comuns entre as famílias. São aqueles pais que obrigam ou pressionam a criança a comer. Também são aqueles que controlam a quantidade de alimentos que os filhos comem durante as refeições. Nesse modelo de cuidados, os pais assumem o papel de auto regulação da criança por obriga-los a comer mais do que desejam forçando, pressionando ou chantageando. Também podem ser aqueles que tentam fazer as crianças comerem menos, por medo de um ganho de peso excessivo. Normalmente as tentativas de controle acabam causando um momento de refeição mais estressante, menos prazeroso contribuindo para a construção de memórias alimentares menos positivas.
A pressão para comer não ajuda a aumentar a aceitação alimentar das crianças. O estresse aumenta a produção de cortisol, hormônio anorexígeno que pode reduzir o apetite ou ser gatilho para comer excessivamente, a fim de acalmar os ânimos exaltados.
Filhos de pais controladores/autoritários tem chances de beliscarem mais entre as refeições, comer na ausência de fome, comer excessiva ou compulsivamente, preferir alimentos mais palatáveis e comer menos vegetais. Também esse modelo de cuidados está associado a maior prevalência de excesso de peso e dificuldades alimentares entre as crianças. Ao que tudo indica, existem fatores ambientais associados ao comer transtornado e as famílias precisam ser orientadas quanto a isso.
Aprender a comer é um processo contínuo multidimensional onde cuidar da frequência das refeições em família, do momento de refeição, clima positivo, ritual de alimentação, da experiência emocional do seu filho durante a refeição, respeitando a autonomia das crianças com limites e regras bem definidas são tão importantes quanto oferecer uma oferta de alimentos balanceada, confirmando que não nos alimentamos apenas de nutrientes, mas também do que eles representam em termos simbólicos e afetivos.
Leia mais em:
Chonge Cole N, et.al. Home feeding environment and picky eating behavior in preschool-aged children: A prospective analysis,Eating Behaviors, 2018.
Blaine, R. E., Kachurak, A., Davison, K. K., Klabunde, R., & Fisher, J. O. (2017). Food parenting and child snacking: a systematic review. The international journal of behavioral nutrition and physical activity, 14(1), 146. https://doi.org/10.1186/s12966-017-0593-9