Por Maria Luiza Petty, nutricionista
“Obesidade infantil causa prejuízos cognitivos”. Este foi o título de uma matéria publicada pela agência USP de notícias para divulgar o resultado de uma dissertação de mestrado defendida na mesma universidade. Ao ler este título, logo comecei a ter palpitações e fui checar se a matéria explicava melhor e suavizava esta afirmação, mostrando que os resultados encontrados na verdade não eram assim tão conclusivos. Mas não, apesar de uma série de indicativos de que a partir de tal pesquisa seria IMPOSSÍVEL afirmar algo tão importante, eles continuavam a afirmar.
Infelizmente, provar causa e efeito não é algo tão simples assim. Para isso, precisamos de um delineamento científico adequado, uma amostra suficientemente grande e representativa da população, variáveis de confusão e intervenientes devidamente controladas, um modelo biológico que explique a causalidade (no caso, como o aumento das células adiposas interferiria no sistema nervoso central), diferentes testes que comprovem a mesma hipótese estudada, etc. Com tudo isso, ainda assim podemos chegar em conclusões menos imperativas, como “aumento do risco de desenvolver tal desfecho? e não o esperado ?X causa Y?.
Mas entender estes resultados não é algo simples, e pior, não é tão ?interessante?. Ninguém quer meias respostas. As pesoas querem respostas absolutas: saber se o zika vírus é mesmo o responsável pela microcefalia, se o bacon causa câncer e, no caso ilustrado acima, mostrar ?como a obesidade é realmente terrível?.
Muitos resultados, ainda que inconclusivos, também são amplamente utilizados (inclusive por colegas da área da saúde) para endossar a venda de produtos que foram “cientificamente comprovados que funcionam?.
Portanto, aumente suas razões de chance de não ser enganado e seja crítico em relação aos resultados de pesquisas científicas! A diferença será estatisticamente significante!